Em menos de uma semana duas Mulheres vieram ter comigo e, de uma forma bastante aberta e sincera, contaram-me as suas histórias... histórias de um passado violento e que terminou com a força de por fim a um ciclo de violência. Histórias que me deixaram com o coração apertado mas ao mesmo tempo feliz... estas mulheres conseguiram dizer Chega!
Vou escrever primeiro sobre a S., chamemos-lhe assim. Uma senhora, em tempos pertencente a uma classe social alta, com filhas, uma casa de sonho, uma vida invejável para muitos. No entanto, chegou a crise, a empresa do marido fechou portas e a vida que muitos invejavam passou a ser a vida que ninguém queria...
S. - "Ana... os sinais sempre estiveram lá... ele sempre foi assim... mas foi piorando"
Contou-me que o marido bebia muito e que com o agravar da crise começou a tornar-se mais violento. Questionei-a se foi a primeira vez que a tentou agredir... disse-me que já tinha havido tentativas.
Contou-me que a dependência do álcool era tão grande que apanhou o marido a beber álcool etílico na casa de banho.
Contou-me que dormia com uma faca debaixo da almofada ...
Um dia à noite houve mais um desentendimento, ele pegou numa faca e ela gritou pela filha... a filha, adolescente, apercebeu-se e assistiu a um pai alcoolizado a tentar magoar mais uma vez a mãe.
"Chega!", disse a S. "Vais sair desta casa e vais te internar para curares a dependência e vamos divorciar-nos".
Assim foi, o marido encontra-se internado a fazer uma cura de álcool e a S. já me disse que não volta para o marido.
A segunda situação passou-se com a F. Novamente pertencente a uma classe social alta. Segundo casamento com uma filha de tenra idade. "Ana, ele bateu-me, esmurrou-me, deu-me pontapés...no dia em que o meu filho fazia anos...". Mostrou-me as fotos que tirou, cara e corpo carregado de nódoas negras. Questionei-a se tinha sido a primeira vez que lhe tida batido... disse-me que não, que não era a primeira vez. Pegou nas suas coisas e na sua filha e saiu de casa. Tive oportunidade também de falar com o marido, um senhor dito galã, charmoso, mas que por detrás desta mascara esconde-se um monstro.
Felizmente também ela conseguiu sair desta relação abusiva...
Com estes dois testemunhos percebemos que a Violência Contra as Mulheres, neste caso a Violência Doméstica, é transversal e atravessa qualquer tipo de estrato social. Que a Violência pauta-se por um ciclo e que muitas vezes quem bate uma vez bate muitas mais. E acima de tudo, com estes testemunhos sentimos que é possível sair de uma relação abusiva... com vida!
Gostaríamos que nos contassem os vossos testemunhos, de forma anónima, pois é através da partilha que sentimos que não estamos sozinhas!
AMA-TE & ARMA-TE
Ana C.
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