Entre Marido e Mulher...
Assisti há uns dias atrás à Grande Reportagem da SIC com a temática da Violência Doméstica. De entre os relatos que ouvi destaco o de uma Senhora que deveria ter uns 70 anos e que quando questionada acerca da história do Manuel Palito (o senhor que andou fugido por ter morto duas mulheres da família) disse a seguinte frase: " Entre Marido e Mulher não se mete a colher..."
ERRADO Minha Senhora!! Entre Marido e Mulher mete-se a colher, mete-se o tacho, mete-se tudo, quando há violência envolvida!
À violência conjugal tem estado associada a ideia de que é um fenómeno natural e privado, a que tem acrescido códigos e normas políticas e religiosas, que contribuem para a sua perpetuação. Surgem crenças e mitos, nem sempre em harmonia com a realidade, que a sociedade legitima, embora por motivos pouco claros. De entre eles podem apontar-se:
a) a violência ocorre em extractos sociais baixos, onde prevalece a pobreza e a baixa escolaridade;
b) os episódios de violência são provocados pelo álcool e drogas;
c) o homem não consegue controlar os seus impulsos;
d) o agressor é um doente mental;
e) o agressor é violento em todas as suas acções e relações interpessoais;
f) as mulheres devem ficar com os seus parceiros sob qualquer circunstância, para que os filhos possam crescer com o pai;
g) as mulheres maltratadas podem abandonar o lar no momento em que o desejam;
h) as mulheres gostam de sofrer;
i) a situação da mulher vai mudar, é apenas uma questão de esperar, esmerar-se e ser compreensiva;
j) a mulher não tem como escapar da violência;
l) se não existe ciume entre o casal, não existe amor;
m) se o homem violento se arrependeu ou se desculpa, isso permitirá que mude a sua conduta abusiva;
n) bater é prova de amor (e.g. Quanto mais me bates mais eu gosto de ti)
o) o lar é um espaço privado, onde ninguém deve interferir;
p) a violência é natural, sempre existiu e vai continuar a existir
Esta frase faz parte de um conjunto de crenças legitimadoras da violência que ainda persiste na nossa população.
Assim sendo, a violência no conjugal permanece muitas vezes associada de forma estreita e intrínseca a relações de poder assimétrico entre géneros, mantendo-se o modelo dominador-dominado, típico de um sistema patriarcal, ainda vigente em grande parte das sociedades ocidentais.
Por isso caros leitores... Quando ouvirem frases deste estilo... Refutem! Argumentem ... mas não deixem que estas frases/crenças continuem a fazer parte do dia-à-dia das mulheres!
AMEM-SE & ARMEM-SE
Nota: Artigo retirado Tese de Mestrado " (...) Mais gosto de ti" ?? Diferenças entre Homens e Mulheres nas Crenças e Comportamentos sobre Violência Conjugal - Joana Afonso
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